Eu perdôo o orégano



Estava lendo um artigo ótimo da Nina Horta sobre comidas que "desaparecem". Ou pessoas que se afastam por causa de comidas. Lembrei de causos. Por exemplo, colocar canela no café do seu amigo, como eu já fiz e sou obrigada a ouvir até hoje um "como você foi capaz?". Ou então dizer que açaí não é fruta, só para seu namorado, que não gosta de fruta, comer pensando que é sorvete (ele ficou de cara amarrada a tarde inteira, em plena praia do Rio de Janeiro).

Eu tinha um problema com o orégano. Logo que eu o descobri, ainda pequena, achei esse condimento admirável. Pedacinho de mato do tamanho de uma poeira foi capaz de deixar um gosto bom na minha língua. Minha mãe colocou um punhado na mão, numa tarde em Taubaté. Mas a vida passou, novos temperos apareceram na dispensa e o orégano virou apenas aquela poeirinha verde em cima da pizza. E só.

Estava quase jogando fora o vidro de orégano daqui de casa. Não tinha porquê, já que as pizzas já chegam temperadas. E eu ainda tinha, confesso, um certo preconceito. Achava o orégano um tempero "menor".

Eis que... inventei essa receita:

MACARRÃO AO LIMÃO, COM ORÉGANO (para duas pessoas)

1) Use spaguete n.o 5 ou 3 da marca Barilla. Por acaso eu fiz com esta marca e vou repetir. Cozinhe o tempo que manda a caixinha. Deixe bem durinho mesmo, sem ficar cru (coma um fiozinho, se estiver seco por dentro, cozinhe mais um pouco).

2) Enquanto o macarrão está na água (nunca ponho sal antes, gosto da água cristalina borbulhando com o azeite), pique um tomate em rodelas grossas. Reserve. Numa frigideira pequena, coloque vagens grandes e cruas para refogar com pouquíssima água, tipo duas colheres de sopa. Ponha alho.

3) Pegue os tomates e distribua numa frigideira larga, com azeite. Polvilhe com pimenta do reino (eu costumo exagerar...). Tape e deixe o tomate refogar um pouco. Jogue alho moído em cima do tomate quando ele já estiver mais mole. Não deixe o tomate desmanchar!

4) Escorra o macarrão quando ele estiver al dente. Ainda dentro do escorredor passe um jato d'água da torneira pra lavar o macarrão (ele fica mais soltinho!). Coloque um dedo de azeite na panela do macarrão e traga a massa de volta. agite um pouco, no fogão baixo para esquentar.

5) Pegue um ou meio limão (é experimentar para saber como prefere, eu gosto bem azedo) e esprema em cima do macarrão na panela (desligada). Sacuda a panela, tipo pipoqueira.

6) Coloque orégano em cima do macarrão. Dois punhados cheios, sem medo. Se for muito, na próxima vez você diminui a quantia. Sacuda a panela. Ponha mais azeite. Ponha sal. Ponha queijo ralado de boa qualidade, não aquele esfarelento. Se for o caso, ligue o fogo para fritar um pouco mais. Não deixe o macarrão secar, precisa estar molhadinho de limão e azeite.


7) Monte o prato assim: Coloque o macarrão - que vai estar azedinho e perfumado, com bastante azeite! - no prato. Pegue, com uma escumadeira, os tomates, ao alho e pimenta, da frigideira. Coloque em cima do macarrão. Se quiser, ponha mais azeite. Use uma vagem em cima para enfeitar. Abra um vinho tinto. E pronto, viva o orégano!

Comida pro coração

Fazer um jantar para a família é desafio. Ainda mais quando é o primeiro. E se algum parente tiver morrido recentemente e os corações de todos estiverem ainda miúdos, feito os de frango, o desafio é maior.

RECEITA PARA ESQUENTAR O CORAÇÃO DA FAMÍLIA

1) Passe uma semana inteira tentando pensar com o estômago de cada um dos integrantes da sua família até cair a ficha do prato perfeito. Imagine o contato deles com o alimento. O visual e o tato são importantes também. Comer com palitinhos, por exemplo, para uma família brasileira, nem sempre é fácil. Para a minha família escolhi um prato fácil e quente: uma carne ensopada. Para combinar, purê de abóbora, que é de uma cor de laranja bem viva.

2) Fique aberto para inspirações externas. Vi um livro que me chamou atenção, acabei comprando: "Nunca treze à mesa", da italiana Orietta del Sole. Ela conta que um poeta amigo dela fritava dentes de alhos inteiros, com casca e tudo. Testei. A primeira leva queimou. A segunda leva deu certo, mas eu me queimei, a ferida ainda dói. Esses eventos são marcantes mesmo. Enfim, reservei o alho, pronto dois dias antes, para fazer o que ainda não sabia bem.

3) Um dia antes do jantar, deixe algumas coisas prontas e picadas, para não ficar muito cansado/a ao fazer tudo de uma vez.

4) No dia do jantar, acorde cedo e já comece a conviver com o alimento. Eu levantei às 7h40 e antes do meio-dia já tinha cozido a carne na panela de pressão para deixá-la macia. Ao longo do dia, até duas horas antes dos convidados chegarem, eu colocava temperos, aos poucos, e experimentava. Em alguns momentos ficou muito apimentada, em outros ficou com pouco sal. É preciso deixar a carne descansar com os temperos para saber o que vai se sobressair. Escolha ingredientes que aqueçam o corpo, como temperos picantes e estimulantes. Na minha carne ensopada eu coloquei páprica, canela, pimenta do reino, bacon (previamente frito), vinho e muito alho.

5) Prepare o ambiente e a música. Escolha os lugares onde as pessoas se sentarão e arraste os móveis, se necessário. Tire as lâmpadas, arrume luminárias suaves e seja estratégico/a na decoração: em cada canto da sala de jantar para onde o convidado olhar, deve ter uma surpresinha: uma vela acesa, luzes de Natal, um desenho que você fez, uma foto etc. A música é importante. Para agradar desde a minha avó de 80 e poucos até minha irmã adolescente de 16, tive de quebrar a cabeça.